| Publicado por Rodrigo Sousa em: 22 de dezembro de 2011 |
POR UMA GEOGRAFIA NOVA: DA CRÍTICA DA GEOGRAFIA
A UMA GEOGRAFIA CRÍTICA
O conhecimento científico está em
constante evolução e, sempre que algo de novo e importante surge no mesmo,
sente-se a necessidade de uma modificação em todo o sistema, pois este
conhecimento é, ou deve ser, em sua maioria, integrado nas mais diversas de suas
áreas. Entretanto, a realidade dos fatos revelam que muitas ciências,
principalmente, a geografia não conseguiu acompanhar essa evolução na abordagem
de novos temas, o que levou a um atraso na mesma, por não se ocupar diretamente
do estudo do seu objeto, no caso o espaço, buscando com mais ênfase, uma
auto-análise como ciência, ou seja, por muito tempo a geografia se dedicou
quase que exclusivamente no mostrar para as demais ciências o que ela é,
deixando a mercê seus estudos, voltados ao seu objeto cientifico.
Assim,
o espaço, que deveria ser veementemente defendido e estudado pela geografia cai
no descaso, sendo atropelado pelas outras instancias do conhecimento
geográfico, que podem ser considerados como elementos ou fatores que o
constituem, como por exemplo a economia, a sociologia ou mesmo a climatologia.
Desta forma o espaço perde sua característica fundamental de totalidade,
restringindo-se à estudos altamente direcionados e isolados do todo.
Analisando
os paradigmas que surgem dentro das ciências verificamos o quanto um paradigma
atinge ao mesmo tempo todas as áreas do conhecimento, ou seja, quando uma nova
teoria é imposta, ou mesmo proposta, esta defrontará o conhecimento que lhe
antecede, obrigando que todas essas áreas busquem novos mecanismos para
comprovar na ação, o conhecimento pregado pela nova teoria, o autor Milton
Santos propõe ainda, que as teorias são resultados das necessidades geradas por
uma nova ordem, não sendo a causa desta nova ordem, como se supunha, o que só
reforça que, se uma teoria desfaz ou mesmo complementa outra teoria anterior, é
porque esta ultima não condizia ou não mais condiz com a verdade, o que prova
que o conhecimento científico deve ser analisado como em constante movimento,
não podendo ser visto como verdade absoluta.
Uma
das características mais marcantes da espécie humana diz respeito à sua
necessidade de tornar-se o centro de tudo o que ocorre ao seu redor, desta
forma quando o homem se apropria de um bem natural, tudo ali ocorrerá da forma
como este prevê. Assim percebe-se a impossibilidade de uma convivência do homem
com a natureza, sem que este à transforme e à domine. Tal situação torna-se
mais grave, quando a quantidade de seres humanos que se apropriam da natureza é
grande, causando irrecuperáveis transtornos na mesma, sem falar que, esse
superpovoamento cria os conflitos dentro do próprio grupo humano, que passou a
ser social, mas que por falta de controle, não pode mais ser mantido pela
natureza.
Assim,
torna se necessário uma geografia que se dedique ao estudo da sociedade como um
todo, buscando identificar, analisar e propor soluções para possíveis problemas
que são encontrados nas sociedades, em seu interior e uma em detrimento das
demais. Então, surge a geografia como sinônimo de espaço, sendo a natureza um
espaço transformado pela ação humana, o que é facilmente perceptível após a
globalização, que transformou direta ou indiretamente uma grande parte do meio
até então intocável pelo homem, em meio social, que abriga, sustenta ou é
prejudicado pela sociedade.
A
partir de tal discussão de Milton Santos a respeito da função da Geografia como
ciência, verificamos o quanto esta Geografia tem que passar por uma verdadeira
e urgente revolução, que se estabeleça como ciência de cunho fundamental para a
humanidade e manutenção do meio como um todo, que passe a se ocupar dos temas
que vão surgindo entre as ciências, mas que se dedique ao seu objeto de estudo,
mas que passe a identificá-lo em suas mais remotas e insuspeitas instancias,
buscando na totalidade do conhecimento o apoio para um conhecimento aceitável
e, consequentemente reconhecível.
Referência: SANTOS, Milton. Por uma geografia nova:
da crítica da geografia a uma geografia crítica. 3.ed. São Paulo: Hucitec,
1986.
Escrito por Rodrigo Sousa em Junho de 2011