A Geografia de Ruy Moreira e Moraes

| Publicado por Rodrigo Sousa em: 6 de novembro de 2011 |

Com o acontecimento histórico das revoluções burguesa e industrial, durante os séculos XVII, XVIII e XIX, abriu-se espaço para os pensadores da época que no passado eram reprimidos por estados autoritários. Tal acontecimento deixou a Alemanha fora desse cenário, que teve que correr contra o tempo, para ganhar espaço e influência, sua principal arma seria o desenvolvimento das tecnologias geográficas.
    Nesse contexto surgem Kant, que introduz as primeiras concepções sobre a geografia física. Surge também Karl Ritter, que vem transformar o método corografico de Kant, que era simplesmente baseado na descrição e classificação taxonômica e propõe a geografia que compara as paisagens duas a duas, portanto, baseada na conceituação e explicação.
Outro nome importante nesse período de sistematização da geografia é Humboldt, que vem a ganhar espaço na sociedade de sua época usando as geografias de Ritter e Kant.
Depois de algum tempo em que a geografia permaneceu fora das grandes discussões científicas, ressurge o método positivista, que visa organizar e sistematizar os conhecimentos científicos.
Surge ainda, a geografia clássica, que somente depois das “especificações” de áreas de estudos como a geologia e a meteorologia, se organiza. É justamente nesse período em que o mundo passa pelos mais rápidos processos de avanço histórico, coincidindo com o surgimento dos grandes nomes que sistematizaram a geografia moderna e, que hoje geram discussões entre os críticos.
Ratzel fica fora das discussões de Ruy Moreira devido sua pouca importância na geografia brasileira, segundo o mesmo. Considerando como berço da geografia brasileira as geografias francesa e norte americana. No entanto Moraes, identifica a geografia alemã como importante para o “mundo colonizado”, portanto para o Brasil, uma vez que essa forma de análise da geografia está voltada para as expansões territoriais.
Sem falar que Ratzel é considerado o fundador da geografia humana, quando publica o livro antropogeografia, no qual Ratzel define o objeto da geografia como sendo o estudo da influencia que as condições naturais exercem sobre a humanidade.
    O geógrafo alemão, ainda, elabora conceitos como espaço vital e idéias naturalistas que vinheram a servir de base para muitos dos geógrafos norte americanos como Ellem Sample que levou as idéias de Ratzel ao seu país. Vale salientar ainda a influência que Ratzel marcou na fundação da geopolítica e da ecologia e, da própria antropogeografia que ainda hoje são de grande importância nos estudos por todo o mundo. Ainda é necessário identificar a geografia alemã como a instigadora da geografia francesa, que por sua vez influencia na origem da brasileira, como mencionado anteriormente.
    Como podemos perceber daqui por diante, Ruy Moreira tenta enxergar as escolas geográficas de cada país como o conjunto formado por aqueles geógrafos que nela influenciaram, dando ênfase ao seu fundador direto, enquanto percebemos que a análise de Moraes se volta mais especificamente para o fundador em si.
    No que discerne à geografia francesa Ruy Moreira identifica Reclus, Vidal de La Blache e Brunhes como seus grandes nomes. Reclus vem discutir o homem como um ser componente da natureza, mas racional, que determina seu espaço e tempo. Vidal de La Blache trata dos mesmos temas de Reclus, no entanto se dispõe a uma análise mais conservadora e concreta. Brunhes apresenta-se como discípulo de La Blache e, portanto compartilha muito das idéias do mesmo, sendo atribuído a ele a introdução do método dialético na geografia, que contrapõe as contradições do meio.
    Moraes considera a geografia francesa como um mecanismo surgido para combater os pensamentos de Ratzel, coloca ainda a geografia de La Blache como sendo mais liberal que a de Ratzel, que se apresentava como autoritária e de imposição, nesse contexto Vidal defendia que as questões políticas deviam ser tratadas abertamente na sociedade, defendia ainda que o interessante para a geografia consiste no “resultado da ação humana na natureza, e não esta em si mesma”.
Enquanto a geografia de Ratzel via o objeto da geografia como sendo a relação entre a influência da natureza sobre o homem, Vidal considera a relação entre homem-natureza, na perspectiva da paisagem (ou seja, a natureza influencia e não determina a condição do homem e este por sua vez a adéqua às suas necessidades).
    Assim podemos perceber que o possibilismo francês é tratado por Ruy Moreira como uma das escolas clássicas geográficas, enquanto Moraes prefere ver o possibilismo como uma característica do pensamento de La Blache.
Ruy Moreira considera Max Sorre como sendo o intermediário entre os pensadores mencionados anteriormente com George e Tricart, dando grande importância a geografia clássica, voltando seus temas para a geografia ecológica e criando as técnicas científicas.
Pierre George estudou o espaço e a relação das sociedades com este. Jean Tricart baseia seus estudos na geomorfologia, e geografia humana, portanto também se dedicava a geografia como um todo, dava atenção à relação homem-meio, na perspectiva ambiental-integralizada.
Moraes não dá tanta ênfase a Sorre, George e Tricart, talvez por acreditar que eles não influenciaram tanto nas origens da geografia brasileira, uma vez que eles voltaram-se a desenvolver o pensamento dos primeiros geógrafos clássicos, além do fato de que nesse momento a geografia ganha novos rumos com Hartshorne, que irá influenciar mais diretamente na geografia brasileira.
O norte-americano Hartshorne aparece na visão de Ruy Moreira como sendo o “sintetizador” da geografia clássica, analisando a geografia desde seus fundadores como Kant, na perspectiva de que são as características de determinada área que a difere das demais.
Já na visão de Moraes, o americano Hartshorne é tido como aquele que resgatou o pensamento do alemão Hettner, contemporâneo do possibilismo, mas acreditava no objeto da geografia como sendo a inter-relação dos elementos no espaço, observando as “variações de áreas”. A geografia de Hartshorne apresentava caráter geral e “explicitamente metodológica”.
Moraes, assim como Ruy Moreira, identificou o desejo que Hartshorne tinha em manter as idéias e a importância da geografia clássica, mas que, esta deveria modernizar-se.
 Ruy Moreira se dedica ainda a mostrar a influência das geografias tradicionais na geografia atual, resultando nas geografias setoriais.
    Com toda essa comparação entre as análises de Ruy Moreira e Moraes podemos identificar que as principais características que os diferem consistem na maior consideração da influencia histórica por Moraes no processo de construção do conhecimento geográfico, enquanto Ruy Moreira prefere considerar como maior peso na caracterização das escolas geográficas o espaço em que essa está presente, além de voltar-se mais especificamente para aquelas que influenciaram mais diretamente a geografia brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia Pequena História Crítica. São Paulo: Hucitec, 1998. p. 52-92
MOREIRA, Ruy. O pensamento geográfico brasileiro. São Paulo: Contexto, 2008. Vol.1.

ESCRITO POR RODRIGO SOUSA EM OUT. 2010
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