RESENHA: CORRENTES DE PENSAMENTO DA GEOGRAFIA POLITICA AMERICANA E SUA INFLUÊNCIA NA GEOPOLÍTICA MILITAR BRASILEIRA

| Publicado por Rodrigo Sousa em: 7 de setembro de 2013 |


Não é novidade que a partir das décadas de 30 e 40 a geopolítica assume papel de fundamental importância na organização estratégica do poder de alguns Estados como Espanha e Itália, ou como ferramenta que justificasse as ações, ainda fortemente influenciada pelos percussores que geraram suas bases, como Mahan e Kgellen.

No Brasil e nos demais países da américa latina, a geopolítica chega de uma forma meio que forçada, sobretudo pela forte influencia norte-americana nas tomadas de decisões do Estado brasileiro, ou seja, existe todo um processo histórico, tendo como cenário a acessão dos Estados Unidos à condição de potencia mundial e sua entrada na segunda guerra mundial como protagonista de uma história de imposição de terror ou mesmo da busca de aliados políticos e econômicos, que o tornasse poderoso ideologicamente e onipresente nas relações entre nações.

Diante de tudo isso, os cidadãos residentes nos Estados Unidos são convocados de forma subjetiva a contribuir com o desenvolvimento do seu país, de forma a prestar os serviços que tinha com as ferramentas que dispunham, com a Geografia não foi diferente, os geógrafos contribuíram no desenvolvimento teórico que grandemente auxiliou o desenvolvimento de estratégias de dominação e imposição do poder, ou simplesmente, justificavam as mesmas estratégias. Assim, autores como Spykman e Aron, sobretudo Spykman, por ter produzido mais organizadamente, contribuíram desenvolvendo uma base teórica que discutia pontos como:


  •  Países como Estados Unidos dispõem de uma predisposição intrínseca à dominação e esta dominação é entendida como estratégia de defesa;
  •  O distanciamento da Europa, bem como seu desenvolvimento industrial foram marcantes e diretamente influenciadores na sua acessão à potência;
  • Mais especificamente N. Spykman, se destaca por propor estratégias aos Estados Unidos, como:

  •  Estabelecimento de boas relações exteriores;
  •  Qualquer estratégia de um aliado aos Estados Unidos deve aceitar sua condição de subordinação;
  • Os conflitos não são entendidos como desordem, mas como reordenamento;
  • O poder assume caráter de capacidade de influencia sobre os demais Estados;
  •  A ofensiva diplomática e comercial sobre os Estados é tão importante quanto à ofensiva militar;

Assim se configurou a primeira fase da Geopolítica nas américas.

No Brasil, apesar de não existir ainda hoje uma linha bem definida de Geografia política, existem diversos autores e trabalhos que discutem seus temas, entretanto a geopolítica sempre foi de grande interesse no Brasil, baseada sobretudo em autores como Ratzel e Mackinder, vale destacar que esta geopolítica foi desenvolvida sobretudo pelos militares, portanto, fortemente influenciada pelas ideologias de suas instituições. Mas recentemente, a Geografia continua fora dos estudos geopolíticos, visto que a ciência política, área das Ciências Sociais, assumiu esta carga de estudos de S. Miyamoto e L. Mello, que absorveram ideologias europeias como:


  • Unidade nacional e territorial;
  • Justificação das idéias antirrepublicanas, antidemocráticas e antifederativas (Alberto Torres e Oliveira Viana);
  •  Centralização do poder político e gestão territorial (Miyamoto);

Percebe-se portanto que, assim como os norte-americanos utilizaram-se dos principais estudos da geopolítica alemã para dar bases teóricas à sua dominação, assim fizeram as instituições militares no Brasil para assumir o poder.

Justificados por idéias como somente a existência de um governo central, seria possível a diminuição das diferenças sociais entre as diversas regiões do país a geopolítica ganhou espaço dentro do período republicano da história brasileira.

Um dos nomes que gera uma discussão mais inquietadoras na geopolítica brasileira é Backlieuser, que chegou a propor uma divisão regional do Brasil que estabelecia limites retilíneos paralelos aos meridianos, com dimensões equivalentes politicamente e que a capital das regiões e do Estado deveria concertrar-se no centro político e geográfico, de forma muito semelhante às propostas de Ratzel e Otto Maull. Propõe ainda uma redistribuição territorial do país, onde a capital estaria no interior e existiriam espaços federais dentro dos territórios delimitados, além de reafirmar seu interesse em deixar bem claro a unidade da nação.

Estes pensamentos autoritários e geomilitar perduraram de forma absoluta até a década de 70, com os pensamentos do general Golbery do Couto e Silva. Suas bases são muito voltadas à segurança nacional e em estratégias globais, ou seja, propõe uma estratégia que deve se sobrepor `às conjunturas políticas. Este militar propõe uma nova regionalização do Brasil, tendo como centro geopolítico São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e a Amazônia como espaço que deveria ser ocupado. Defende ainda, o alinhamento do Brasil às potências ocidentais, assim, compartilha das idéias de Spykman.

Posteriormente, Golbery mostra um pensamento inovador, ao observar os avanços do governo de Jucelino Kubicheck como a industrialização e as mudanças no poder econômico.
A partir de 1949, com a criação da Escola Superior de Guerra, os rumos da Geografia política brasileira são mudados, de forma a assumir maior caráter científico e pouco ligados a administração do governo.

Fortemente influenciado por Golbery, Mattos Meira é um outro estudioso que ganha destaques em suas publicações, por tratar de questões como a integração da América latina no processo de colonização da Amazônia.

Na década de 90 destaca-se os estudos de Cavagnari, que vem assumir discussão semelhante à acessão dos EUA como potência mundial, no caso o Brasil como potência média no contexto sulamericano.

Por fim, uma das atuais pesquisadoras da geopolítica brasileira é Bertha Becker, que passa a discutir temas da geopolítica no âmbito acadêmico.

E desta forma se configura a geopolítica brasileira, quase que absolutamente calcada nos quartéis generais, fortemente marcada pelo autoritarismo e pelo controle ideológico interno no país, com poucas análises de ordem da política mundial.

Referência Bibliográfica:

COSTA, Wanderley Messias da. Geografia política e geopolítica: Discursos sobre o território e poder. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992.

Escrito por Rodrigo Sousa em Maio de 2013
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