| Publicado por Rodrigo Sousa em: 7 de setembro de 2013 |
No Brasil e nos demais
países da américa latina, a geopolítica chega de uma forma meio que forçada,
sobretudo pela forte influencia norte-americana nas tomadas de decisões do
Estado brasileiro, ou seja, existe todo um processo histórico, tendo como
cenário a acessão dos Estados Unidos à condição de potencia mundial e sua
entrada na segunda guerra mundial como protagonista de uma história de
imposição de terror ou mesmo da busca de aliados políticos e econômicos, que o
tornasse poderoso ideologicamente e onipresente nas relações entre nações.
Diante de tudo isso, os
cidadãos residentes nos Estados Unidos são convocados de forma subjetiva a
contribuir com o desenvolvimento do seu país, de forma a prestar os serviços
que tinha com as ferramentas que dispunham, com a Geografia não foi diferente,
os geógrafos contribuíram no desenvolvimento teórico que grandemente auxiliou o
desenvolvimento de estratégias de dominação e imposição do poder, ou simplesmente,
justificavam as mesmas estratégias. Assim, autores como Spykman e Aron,
sobretudo Spykman, por ter produzido mais organizadamente, contribuíram
desenvolvendo uma base teórica que discutia pontos como:
- Países como Estados Unidos dispõem de uma predisposição intrínseca à dominação e esta dominação é entendida como estratégia de defesa;
- O distanciamento da Europa, bem como seu desenvolvimento industrial foram marcantes e diretamente influenciadores na sua acessão à potência;
- Mais especificamente N. Spykman, se destaca por propor estratégias aos Estados Unidos, como:
- Estabelecimento de boas relações exteriores;
- Qualquer estratégia de um aliado aos Estados Unidos deve aceitar sua condição de subordinação;
- Os conflitos não são entendidos como desordem, mas como reordenamento;
- O poder assume caráter de capacidade de influencia sobre os demais Estados;
- A ofensiva diplomática e comercial sobre os Estados é tão importante quanto à ofensiva militar;
Assim se configurou a
primeira fase da Geopolítica nas américas.
No Brasil, apesar de não existir ainda hoje
uma linha bem definida de Geografia política, existem diversos autores e
trabalhos que discutem seus temas, entretanto a geopolítica sempre foi de
grande interesse no Brasil, baseada sobretudo em autores como Ratzel e
Mackinder, vale destacar que esta geopolítica foi desenvolvida sobretudo pelos
militares, portanto, fortemente influenciada pelas ideologias de suas
instituições. Mas recentemente, a Geografia continua fora dos estudos
geopolíticos, visto que a ciência política, área das Ciências Sociais, assumiu
esta carga de estudos de S. Miyamoto e L. Mello, que absorveram ideologias
europeias como:
- Unidade nacional e territorial;
- Justificação das idéias antirrepublicanas, antidemocráticas e antifederativas (Alberto Torres e Oliveira Viana);
- Centralização do poder político e gestão territorial (Miyamoto);
Percebe-se portanto que,
assim como os norte-americanos utilizaram-se dos principais estudos da
geopolítica alemã para dar bases teóricas à sua dominação, assim fizeram as
instituições militares no Brasil para assumir o poder.
Justificados por idéias como
somente a existência de um governo central, seria possível a diminuição das
diferenças sociais entre as diversas regiões do país a geopolítica ganhou espaço
dentro do período republicano da história brasileira.
Um dos nomes que gera uma
discussão mais inquietadoras na geopolítica brasileira é Backlieuser, que
chegou a propor uma divisão regional do Brasil que estabelecia limites
retilíneos paralelos aos meridianos, com dimensões equivalentes politicamente e
que a capital das regiões e do Estado deveria concertrar-se no centro político
e geográfico, de forma muito semelhante às propostas de Ratzel e Otto Maull.
Propõe ainda uma redistribuição territorial do país, onde a capital estaria no
interior e existiriam espaços federais dentro dos territórios delimitados, além
de reafirmar seu interesse em deixar bem claro a unidade da nação.
Estes pensamentos
autoritários e geomilitar perduraram de forma absoluta até a década de 70, com
os pensamentos do general Golbery do Couto e Silva. Suas bases são muito
voltadas à segurança nacional e em estratégias globais, ou seja, propõe uma
estratégia que deve se sobrepor `às conjunturas políticas. Este militar propõe
uma nova regionalização do Brasil, tendo como centro geopolítico São Paulo, Rio
de Janeiro e Belo Horizonte e a Amazônia como espaço que deveria ser ocupado.
Defende ainda, o alinhamento do Brasil às potências ocidentais, assim, compartilha
das idéias de Spykman.
Posteriormente, Golbery
mostra um pensamento inovador, ao observar os avanços do governo de Jucelino
Kubicheck como a industrialização e as mudanças no poder econômico.
A partir de 1949, com a
criação da Escola Superior de Guerra, os rumos da Geografia política brasileira
são mudados, de forma a assumir maior caráter científico e pouco ligados a
administração do governo.
Fortemente influenciado por
Golbery, Mattos Meira é um outro estudioso que ganha destaques em suas publicações,
por tratar de questões como a integração da América latina no processo de
colonização da Amazônia.
Na década de 90 destaca-se os estudos de
Cavagnari, que vem assumir discussão semelhante à acessão dos EUA como potência
mundial, no caso o Brasil como potência média no contexto sulamericano.
Por fim, uma das atuais
pesquisadoras da geopolítica brasileira é Bertha Becker, que passa a discutir
temas da geopolítica no âmbito acadêmico.
E desta forma se configura a
geopolítica brasileira, quase que absolutamente calcada nos quartéis generais,
fortemente marcada pelo autoritarismo e pelo controle ideológico interno no
país, com poucas análises de ordem da política mundial.
Referência
Bibliográfica:
COSTA, Wanderley Messias da. Geografia política e geopolítica:
Discursos sobre o território e poder. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 1992.
Escrito por Rodrigo Sousa em Maio de 2013