| Publicado por Rodrigo Sousa em: 13 de janeiro de 2013 |
Nesta postagem apresentamos um texto sobre a existência de projetos que objetivam a implementação de ações inteligentes em cidades cearenses, apresentado à disciplina de Formação do Espaço Mundial do Curso de Geografia-UVA.
A priori, uma cidade
inteligente é uma cidade que apresenta alta quantidade de informações e meios
tecnológicos que facilite a vida do cidadão, mas este conceito torna-se
complexo a medida que envolve um conjunto de políticas que tornem possível a
sua condição de inteligente, a exemplo da mobilidade, geração de empregos,
qualidade dos serviços prestados como educação e saúde entre tantos outros.
No Ceará, com a ideia de estudar, de modo aprofundado, as áreas
econômica, social e ambiental de três cidades,Barbalha, Maranguape e Mauriti,
com o intuito de, posteriormente, implementar nelas soluções inteligentes, um
grupo de pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (UECE), vêm
desenvolvendo suas pesquisas para orientar a administração destas cidades, com
base em estudos semelhantes desenvolvidos em universidades européias.
Uma cidade inteligente pode
ser definida como uma comunidade que faz um esforço consciente para usar a
tecnologia da informação no intuito de transformar e otimizar o cotidiano.
Possui internet banda larga ampla para empresas e residências, alto nível de inclusão
digital, inovação pulsante, transporte integrado, baixo desperdício de energia
e muita informação disponível para a população.
Abaixo temos um conceito de
cidade inteligente desenvolvido por Steventon e Wright, 2006.
“Uma Cidade inteligente também pode ser definida como um
ambiente inteligente, que embute tecnologias da informação e da comunicação
(TIC) que criam ambientes interativos, que trazem a comunicação para o mundo
físico. A partir desta perspectiva, uma cidade inteligente (ou em termos mais
gerais um espaço inteligente) se refere a um ambiente físico no qual as
tecnologias de comunicação e de informação, além de sistemas de sensores,
desaparecem à medida que se tornam embutidos nos objetos físicos e nos ambientes
nos quais vivemos, viajamos e trabalhamos.“ (Steventon e Wright, 2006).
Um outro conceito com uma
idéia mais voltada aos cidadãos enquanto produtores do Espaço nos é apresentada
por Komninos 2002.
“cidades (ou comunidades, clusters, ou regiões) inteligentes
são aqueles territórios caracterizados pela alta capacidade de aprendizado e
inovação, que já é embutida na criatividade de sua população, suas instituições
de geração de conhecimento, e sua infraestrutura digital para comunicação e
gestão do conhecimento. A característica distintiva de uma cidade inteligente é
o grande desempenho no campo da inovação, pois a inovação e a solução de novos
problemas são recursos distintivos da inteligência” (Komninos 2002 and 2006).
Assim, muito mais do que um
ambiente dotado de tecnologia, essas cidades precisam de pessoas capazes de
pensar diferente, sempre naquilo que é novo e pode modificar, para melhor,
aspectos da vida moderna. Ainda sobre o conceito cidade inteligente podemos
entender que essas, lançam mão do que há de mais moderno em recursos
tecnológicos e arquitetônicos como resposta aos desafios impostos pelo
adensamento populacional.
A idéia é criar ambientes
sustentáveis, eficientes, com alto grau de conectividade e, consequentemente,
com excelentes níveis de qualidade de vida, assim uma das principais
características das cidades inteligentes é a sustentabilidade, bem como o
avanço das tecnologias da informação e da comunicação que são outros aspectos
fundamentais para que uma cidade seja considerada inteligente.
Percebemos também que nem
tudo sobre cidades inteligentes se refere a territórios tão futurísticos, as
aglomerações urbanas são como organismos vivos e desenvolvem novas necessidades
constantemente. O que hoje se convenciona incluir no campo das cidades
inteligentes são formas de pensar a vida urbana e o uso das tecnologias que, em
alguma medida, sempre estiveram entre as preocupações dos especialistas em
urbanismo.
Expomos a seguir algumas das
características de cidade inteligente, comumente encontradas nos pensamentos de
autores que estudam o tema.
· A utilização de uma
infraestrutura de rede para melhorar a eficiência econômica e política que
possibilite o desenvolvimento social, cultural e urbano, onde o
termo 'infraestrutura' refere-se a serviços de habitação, lazer e estilo de
vida. Essa visão sustenta a ideia de uma cidade conectada como principal modelo
de desenvolvimento e a conectividade como sua fonte de crescimento.
· A ênfase no
desenvolvimento urbano orientado a negócios. Apesar de essa perspectiva dar
um peso excessivo ao aspecto econômico no progresso das cidades, ela é
corroborada empiricamente, pois pesquisas mostram que as cidades receptivas a
novos negócios estão em sua maioria entre as que apresentam um desempenho
socioeconômico satisfatório.
· Um forte foco na busca da
inclusão social da totalidade dos residentes urbanos nos serviços públicos, pouco adianta ter uma cidade com ótima
infraestrutura se os cidadãos não têm acesso sequer aos equipamentos urbanos.
· Cidades que querem ser bem
sucedidas devem atrair mão de obra criativa,apesar da
presença de força de trabalho qualificada e inventiva não assegurar um bom
desenvolvimento urbano, esse fator é decisivo para o sucesso das cidades em uma
economia globalizada e fortemente baseada no conhecimento.
A evolução de uma cidade em termos econômicos,
sociais e ambientais depende em grande medida de sua capacidade de criar um
ambiente favorável à inovação nos vários setores da sociedade, aliciando
governos, indústrias, empresas, universidades e centros de pesquisa,
organizações, comunidades e cidadãos para trabalhar cooperativamente. Com
efeito, a inovação é o processo através do qual são encontradas soluções para
problemas abrangendo desde a luta contra doenças fatais até as mudanças climáticas,
é a fonte essencial de melhoria de nossa qualidade de vida e da de nossos
descendentes.
É evidente que um progresso duradouro só pode
provir de novos paradigmas de desenvolvimento que assegurem, ao mesmo tempo,
crescimento econômico, justiça social e sustentabilidade ambiental.
Estudos
mostram que não existem cidade inteligente sem educação de qualidade, em seus
diversos níveis. Diversos setores da economia apontam a inovação como a melhor
estratégia para elevar a capacidade competitiva das empresas e gerar riquezas
para o país, o estado e o município. Mas a humanidade já aprendeu que se
desenvolver às custas do meio ambiente não é mesmo uma boa ideia. Nas
estruturas urbanas planejadas, a economia e o bem-estar dos habitantes precisam
andar de mãos dadas.
Três
cidades cearenses servirão de modelo para implantação do sistema de “Cidades
Inteligentes”, que utilizam uma base de Tecnologia da Informação para encontrar
soluções inteligentes para gestão de cidades, Barbalha, Maranguape e Mauriti
foram escolhidas para participar do Projeto Cidades Inteligentes, que tem por
objetivo desenvolver uma metodologia para um estudo aprofundado sobre o que
acontece nas cidades, antes da implantação de um serviço digital eficaz.
Segundo
o pesquisador Samuel Câmara, do mestrado em Administração da Universidade
Estadual do Ceará (UECE) e diretor do Grupo de Pesquisa de Cidades Inteligentes
no Semiárido, o projeto visa a implantação desta filosofia em pequenas e médias
cidades do semiárido nordestino. Para isso, o grupo viajou para conhecer casos
de sucesso na Espanha, Portugal, Holanda e Finlândia.“Fomos a Borba, Redondo e
Évora (Portugal), Barcelona (Espanha), na Holanda a Amsterdã, Delft e Leiden,
onde visitaram projetos desenvolvidos por universidades e instituições de
pesquisa nas áreas de design e tecnologia. Esses projetos são, segundo o
pesquisador, verdadeiros laboratórios vivos para as universidades.
A
escolha de tais cidades para início dos estudos se deu a partir das
experiências observadas na Europa, que buscou estudar cidades que já
apresentava certa infra-estrutura básica, como de comunicação, escolas,
universidades, que não fossem de tamanho tão grande para facilitar as
observações e que já mostrasse também interesse político em assumir o
compromisso de pensar uma gestão da cidade de maneira inteligente.
Roberto Pinto, professor e coordenador
do mestrado de Administração da UECE e membro do grupo de pesquisa, diz que as
soluções encontradas não podem ser transplantadas para a realidade de nossas
cidades, mas que foram em busca da filosofia. “Queremos identificar as
necessidades e possíveis trajetórias para tornar nossas cidades mais
inteligentes”, afirma Pinto. Segundo ele, nas três cidades cearenses serão
feitas pesquisas/diagnóstico das necessidades, onde serão envolvidos alunos e
professores da UECE. Com base nos dados, o objetivo é qualificar a gestão
municipal no desenvolvimento de projetos que estejam sintonizados com as
especificidades daquelas sociedades. “Quando a sociedade não participa das
soluções, ela não se apropria delas, aí acontecem os casos de vandalismo e
abandono”, diz o pesquisador e acrescenta: “Soluções inteligentes não precisam
ser complexas, mas têm que atender às necessidades da cidade”.
Figura 01:Localização
das cidades inteligentes propostas pelos estudiosos da UECE no Ceará
Fonte: Adaptado do Atlas da
Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará.
Barbalha
é uma cidade do sul do estado do Ceará, fundada em 17 de agosto 1846 localizada a
07°18'18"S s 39°18'07"O, altitude de 214m a uma distância de 610 Km
de Fortaleza pertence a mesorregião do sul cearense e microrregião do cariri,
faz limite com Crato, Juazeiro do norte, Jardim e Missão velha, ocupa uma área
de 479, 184 km², com população de 55 373 hab (ibge/2010), densidade: 115,56
hab/km², idh igual a 0,687, pib correspondente a R$ 204.980 mil anuais e pib
per capita deR$ 0,01.
Figura 02:
Vista aérea de Barbalha/CE
Fonte:
http://img429.imageshack.us/img429/7991/aerea03rk6.jpg.
Maranguape
está situada no Nordeste do Estado do Ceará, no sopé da serra de Maranguape, a
30 km distante de Fortaleza. Tem uma área de 654,8 km², localizada na latitude
3°53’27’’S e longitude 38º41’08’’O, à altitude de 68,57 metros, na mesorregião
da Zona Metropolitana de Fortaleza e microrregião de Fortaleza, com uma
população: 115.465 (IBGE, 2011), limitada territorialmente por Caucaia,
Maracanaú, Caridade, Palmácia, Guaiúba, Guaiúba, Pacatuba, Pentecoste e
Caridade. O clima predominante ao longo do ano é tropical Quente Úmido, com período
Chuvoso de Janeiro a Maio, dispões das unidades fitoecológicas da caatinga arbustiva
densa,floresta subcaducifólia tropical fluvial, floresta subperenifólia tropical
pluvio-Nebular (Mata úmida, serrana), unidades geomorfológicas de depressão
sertaneja submetida a processos de sedimentação, maciços residuais dissecados
em cristais e colinas, solos Bruno não cálcicos, solos litólicos, planossolosolódico,
podzólico bvermelho-amarelo e vertissolos. O município tem como atividades
econômicas, na serra, portugueses cultivam o café e frutas, mas atualmente a
economia de Maranguape mantém duas vertentes, que unem tradição e modernidade,
o município destaca-se tanto pela produção de bordados, em especial o
richilieu, quanto nas indústrias, como a Dakota, Mallory e Hope.
Figura 03:
Vista aérea de Maranguape/CE
Fonte: http://i147.photobucket.com/albums/r320/jovazin/Fotos%20bestas/GBC0715_0088D.jpg
Mauriti está
Localizada da Região Sul do Estado, distante da Capital Fortaleza 491,80Km, à altitude
de 374 metros, com densidade demográfica de 37,48 hab/km², população de 41.679
Habitantes (IBGE 2007), localizada geograficamente nas coordenadas 07°23’21’’S
e 38°46’28’’O, de clima predominante tropical quente semi-árido, com solos
areias auartzosasdistróficas, litólicos, podzólico vermelho-amarelo e vertissolo,
caracterizado por ter período chuvoso de fevereiro a abril, com pluviosidade
média de 754,2mm, relevo de chapada do Araripe e depressões Sertanejas, vegetação
de floresta caducifólia espinhosa e floresta subcaducifólia tropical pluvial,
localizado na macrorregião do Cariri - Centro-sul, limitada territorialmente
pelo estado da Paraíba, Estado do Pernambuco, Milagres e Brejo Santo no Ceará.
Sua área territorial é de 1.112Km²
Figura 04:
Vista aérea de Muriti/CE
Fonte: http://www.citybrazil.com.br/arquivos/imagens/galfotos/gf_800_00006411.jpg
Portanto
podemos dizer que o conceito de "cidade inteligente" integra tanto
seus espaços físicos, institucionais e digitais, descrevendo um território com atividades
bem desenvolvidas relacionadas a conhecimento, ou grupos de tais atividades,
rotinas embutidas de cooperação social, permitindo que o conhecimento seja
adquirido e adaptado, um conjunto desenvolvido de infraestrutura de
comunicação, espaços digitais e ferramentas de conhecimento e inovação, e uma
habilidade comprovada de inovar, gerenciar e resolver problemas que apareçam
pela primeira vez, uma vez que a capacidade de inovar e gerenciar a incerteza
são os fatores críticos para se medir inteligência.
Percebemos
através de tal “síntese” que o conceito de cidade inteligente é bastante
complexo, não podendo nos iludir com discursos simplistas que tentam atribuir
novos nomes à ambientes tão tradicionais e pouco diferenciados ao longo do
tempo e do espaço, como uma forma de angariar recursos e investimentos.
As três
cidades cearenses aqui apresentadas, não são cidades inteligentes, existe
apenas um projeto de pesquisa para investigar o potencial destas cidades se
tornarem inteligentes, o que necessitará de grandes investimentos na cultura,
educação, saúde e sobretudo na formação dos cidadãos em pensar a cidade como um
lugar para ser usufruído e discutido e dos gestores, enquanto organizadores
maiores destes espaços.
DUARTE, Fábio. Cidades inteligentes: inovação tecnológica no meio urbano.
Disponível em: . Acesso em: 22-10-2012.
Komninos, N.
(2002) Intelligent Cities:
Innovation, knowledge systems and digital spaces, London and New York,
Routledge.
Steventon, A.,
and Wright, S. (eds), (2006) Intelligent
spaces: The application of pervasive ICT, London, Springer.
XIMENTES, Victor. Ceará dá os primeiros passos para ter cidades inteligentes.
Disponível em: .
Acesso em: 22-10-2012.