A TRAJETÓRIA DO MST E A LUTA PELA TERRA NO BRASIL

| Publicado por Rodrigo Sousa em: 16 de novembro de 2012 |

STEDILE, João Pedro; FERNANDES, Bernardo Mançano. Brava Gente: A trajetória do MST e aluta pela terra no Brasil. Fundação Perseu Abramo: São Paulo, 1999.


ANÁLISE DO LIVRO DE JOÃO PEDRO SEDILE E BERNARDO MANÇANO

Raízes

            O referido período corresponde a massificação da implementação das indústrias no Brasil, sobretudo no campo (agroindústrias) o que ocasionou em grande êxodo rural e formação das periferias das grandes cidades
            A dita base social que originou o MST corresponde a parcela da população que vivia até então sob a manutenção da agropecuária tradicional que, foi substituída pelas indústrias que exigiam menor quantidade de mão de obra e mão de obra especializada, condição socioeconômica fundamental para a organização do movimento
            O engajamento das igrejas católica e luterana na causa, foi outro fator fundamental para a gênese do MST, pois criou agora as condições ideológicas necessárias à sua edificação
            Neste mesmo momento, todo o país se via diante de grandes outros movimentos em luta pela implementação de uma verdadeira democracia no Brasil, aja vistas a presença do momento ditatorial em que passava o país

Características e princípios

            Sempre houve uma grande discussão sobre a organização do MST, como um movimento camponês diferenciado, pois desde o início já contava com um conjunto de doutrinas a serem respeitadas.
            Na sua gênese decidiu criar um movimento com características que enfatizam o que foi comentado, entre elas buscou fazer um movimento popular que permitisse o engajamento de pessoas dos mais diversos segmentos sociais, além de buscar abranger também todos os membros da família.
            Realmente, a estratégia de envolver pessoas com habilidades diversas permitiu a criação e um movimento diversificado, pronto para situações diversas e abrangente de grande parte ideológica da sociedade.
            Logo no início já ficou claro para os organizadores do MST, que seria necessário criar uma relação continuada entre os mais diversos setores e membros, o que levou á uma organização de caráter sindical corporativo.
            Para levar adiante a luta pela reforma agrária não seria suficiente a simples ideologia da luta, o que poderia criar individualismos, sentiu-se a necessidade de buscar outro elemento de tão grande importância ideológica para unir os participantes do movimento, optou-se então pela criação de uma identidade de classe, sob caráter altamente político para tal fim.
            Para manter as características anteriormente anunciadas, seria necessário criar uma organização estruturada sobretudo em princípios que regeria as ações dentro do MST, o mais importante, trata da direção e coordenação de tais ações, optando por uma direção coletiva, o que deveria garantir decisões democráticas, e de caráter não corrupto.
            Seria necessário também a consciência de que cada pessoa envolvida com o movimento deveria assumir uma responsabilidade, a que fosse mais condizente com suas habilidades, assim, cada um saberia o que fazer, sem ser necessário ser ordenado.
/O comprometimento, regido pela disciplina, constituem mais um dos princípios do MST, pois tal comprometimento garantia que os componentes do movimento fossem organizados e assumissem sua postura dentro do mesmo.
            A base teórica do MST, assumida pelo princípio do estudo lhe garantiu sucesso que não foi obtido por tantos outros movimentos de caráter semelhante, pois estes estudos permitiram analisar os erros para que não fossem repetidos, bem como os acertos para criar estratégias de luta.
            Um movimento de dimensões como o MST exige um grande contingente de pessoas envolvidas, sobretudo, com funções diferenciadas, para tanto optou-se por incentivar a educação de membros do próprio movimento para execução de tais tarefas, pois assim esta ação funcionaria como um investimento interno ao movimento.
            Talvez a maior marca do MST consiste na insistente luta pela terra, tal fato é um dos mais importantes princípios do movimento, pois é o momento em que efetivamente ocorre a prática de ações concretas que resultam em soluções também concretas.
            De nada teria importância ou respaldo um movimento social que não estivesse diretamente interligado internamente, sobretudo tendo a base como de fundamental importância na tomada de decisões. Daí a importância que o MST sempre deu aos camponeses que constituem a verdadeira massa do movimento.

Aprendizado
Dentro do MST não é pequena a quantidade de pensadores e estudiosos que tornam o movimento, um movimento diferenciado, tais pensadores buscaram influencia na Teologia da Libertação, que deu apoio às tomadas de decisões nos momentos distintos, mas, sobretudo, foi na experiencia e no estudo das experiencias de outros movimentos, que o MST, ganhou forças e pode preparar suas táticas de ação.


Governo: dos militares a Itamar

            Neste momento, o Brasil passava por mais um momento de conturbação política e, diante de tais condições o MST se aproveitou para fazer cada vez mais ocupações e buscar fazer ações para manter a correlação de forças a seu favor.
            Um dos piores momentos vivido pelo MST corresponde à derrota de Lula nas eleições presidenciais, isso representou um verdadeiro baque para o movimento que apoiava diretamente tal candidatura, pois construiu-se toda uma estrutura ideológica em torno de tal eleição, que representava uma oportunidade de revolucionar as condições sociais e políticas no país.

Educação

            Desde o início o movimento já demonstrou inquestionável atenção à educação, mas a criação do ENERA, assumiu a real dimensão de tal preocupação ao incentivar de forma incessante, a educação como transformadora.
            Ao buscar aliar o conhecimento e a democracia da terra, o MST buscou construir ao longo de sua existência, a prova de que é possível construir uma sociedade com princípios e valores diferentes, daqueles pregados por tão conhecido “modo de produção capitalista”, que  reproduz uma ideologia, sobretudo individualista, competitiva e não solidária.
            A luta por uma identidade rural, fez com que os participantes do MST buscasse articular o conhecimento técnico-científico à realidade rural, de maneira organizada, e inter-relacionada. Tal condição fica escancarada na luta por uma educação no campo e do campo.

Organização

            Para manter o caráter continuador do MST, desmistificando os movimentos sociais como sendo de fins exclusivos para luta, o movimento buscou articular diversas frentes de ações, para garantir que fosse cumprido o compromisso de um movimento realmente social.
            A opção pela justiça. Moralidade e organização faz com que o MST resista aos momentos diversos, pois é com base nestes princípios intrínsecos nas decisões do movimento que permitem o acerto e o cumprimento real da vontade da maioria.

Instâncias

            Como já foi mencionado anteriormente, a organização desejado pelo MST levou a criação de várias frentes de ações, entre elas a preocupação pela articulação dos assentamentos, pois não era suficiente ocupar a terra se não fosse articulado o mínimo de estrutura para manutenção de tal espaço.
            A existência da estrutura organizacional do MST não é resultado e um planejamento prévio, mas do conjunto de necessidades que foram surgindo com o tempo e com as condições que foram enfrentadas pelo movimento.

Produção e cooperação agrícola

            Um dos maiores desafios enfrentados pela administração do movimento consistiu na introdução de uma nova cultura técnico-científica dentro dos assentamentos, pois as famílias teriam que se adaptar ao novo ambiente que apresentavam suas peculiaridades e, sem falar na função do MST de criar uma assistência continuada a tais famílias assentadas.
            A opção pela cooperação agrícola fez do MST um movimento que pudesse orientar as famílias assentadas a introduzirem em sua prática produtiva, métodos mais adequados e cooperativos de produção, por análises profundas no que seria melhor.
            Não bastava investir na produção, mas na reflexão sobre o ato político que era executado ao longo de todo o processo.
            A produção também tinha uma divisão de tarefas e o incentivo à produção consciente com o objetivo maior de garantir que fosse produzido aquilo que gerasse lucro para a comunidade, da melhor forma possível e com as melhores técnicas.

Ocupação

            As barreiras enfrentadas durante as ocupações não são poucas, sobretudo daqueles que deveriam estar defendendo os interesses da sociedade, como polícia e governantes, mas a grande verdade é que a força da união ameaça as correlações de forças e causa medidas dolorosas durante as ocupações.


Solidariedade e desenvolvimento

            A organização presente no MST, permite o planejamento de operações táticas solidárias, com o objetivo de mostrar para a sociedade que seus princípios não constituem somente na ocupação da terra, mas a criação de um conjunto de relações com a sociedade como um todo, pois o MST não é algo isolado do mundo, pelo contrario, busca uma interação maior de iguais para iguais.

Mística

            A mística é de grande importância na construção do ideal do MST, pois insiste na união das pessoas como sendo capazes de buscar realizar tal ideal que no fundo é o que cada componente do movimento mais quer, ter seu lugar, criar relações emotivas e tudo isso, baseado na mística.

FHC: contra a reforma agrária

            A primeira concepção de reforma agrária, absorvida pelo governo do FHC, tratava o problema como inexistente, pois o grande problema não era o tamanho da propriedade no desenvolvimento do capitalismo, seria suficiente o contato do homem com a terra, mesmo que não fosse contato de propriedade.
            Sob um segundo ponto de vista, o governo passa a enxergar a não necessidade de incentivo á reforma agrária, pois percebia-se maior necessidade do homem em outros meios de produção que não a agricultura, esta deveria caber realmente aos grandes latifundiários.

A marcha

            A marcha representa no movimento, a união e luta pela terra, desperta os sentimentos de justiça e igualdade, o que cria a verdadeira reinvindicação por direitos.

A reforma agrária

            Inicialmente, a reforma agrária era tida como a simples distribuição de terra, visando a autonomia do beneficiado, não existia uma preocupação realmente política com o futuro do homem e da própria terra.
            A reforma agrária envolve uma escala diferenciada, a nível de país, ou mesmo estado, o que é diferente do assentamento, que se destina a uma pequena comunidade, sem falar que a reforma agrária se faz com redistribuição justa de terra e não com a simples permissibilidade ou doação da terra.

            A efetiva reforma agrária só é possível com altos investimentos em um conjunto de fatores que configuram a realidade da posse da terra no Brasil, desde a infraestrutura básica à questão ideológica.
            A observação da realidade do campo, fez do MST um movimento estratégico com o fim maior de oferecer a possibilidade de posse da terra aos camponeses, mas com ela, toda a identidade, estrutura e cultura que é necessária.
            Um dos grandes problemas enfrentados por muitos países, na execução de suas reformas agrárias consistiu na não democratização da terra, que mesmo ocorrendo a reforma ainda permaneciam as propriedades improdutivas, ou em muitos casos foi destinado a tal reforma as terras de difícil cultura. E, mais uma vez vale ressaltar que a reforma deve ser tão agrária como social, pois é necessário uma consciência política e educacional para que o processo de reforma agrária possa se reproduzir.
© 2013 - o-espetacular.blogspot.com | Todos os direitos reservados

É proibida a reprodução de qualquer conteúdo deste site sem autorização por escrito de seus autores.